Sexta-feira, 18 de Junho de 2010

País de brandos costumes...ou talvez não

Todos nós já dissemos, ou pelo menos ouvimos dizer repetidas vezes, que "Portugal é um país de brandos costumes". Agora, isto é, nos dias que correm até aparenta ser, dado, na minha opinião, o medo de represálias e danos colaterais que os cidadãos temem que possam advir de discordâncias expressas pelos mesmos acerca do sistema instalado convenientemente para alguns. As pessoas têm medo (e muitas vezes não as julgo porque não têm uma verdadeira alternativa) de perder o emprego, de não ser promovidas, de ser mal vistas perante os colegas ou amigos, de serem excluídas socialmente, olhadas de lado ou prejudicadas na sua vida pessoal seja de que forma for. Há liberdade de expressão sim mas o Homem continua, transversalmente no tempo, a ser vingativo e não gostar de ouvir criticas, especial e principalmente aquele que possui poder, seja económico, político...e que recorre a ele para afirmar e levar a sua avante. Mas, avançando, eu discordo do provérbio popular e afirmo que Portugal nunca foi um país de brandos costumes, antes pelo contrário. Para isso recorrerei a alguns exemplos que a História Nacional nos fornece. Situações que estão no ADN do nosso país e que andarão sempre agrilhoadas à nossa essência. Primeiro, e não por ordem cronológica dos acontecimentos, D. Afonso V Matou o sogro e tio D. Pedro O exército real pôs-se a caminho de Coimbra e parou em Santarém. D. Pedro juntou as suas tropas e, a 5 de Maio, partiu de Coimbra. Apesar de saber que o rei estava em Santarém, dirigiu-se a Lisboa. Informado da marcha do tio e sogro, D. Afonso V também se encaminhou para a capital. Os dois exércitos encontraram-se junto à ribeira de Alfarrobeira, nas cercanias de Alverca, no dia 20 de Maio. As tropas do rei, muito superiores, esmagaram os partidários de D. Pedro, que morreu em combate, aos 56 anos. Com ele tombou o seu amigo D. Álvaro Vaz de Almada, conde de Avranches, que, perante o ataque inimigo, teve um desabafo que passou à história: "Fartar, vilanagem!" A crueldade adolescente de D. Afonso V, à data com 17 anos, foi ao ponto de recusar a sepultura ao corpo do tio e do sogro. Os familiares e partidários de D. Pedro foram perseguidos e espoliados. Só devido à pressão do duque de Borgonha, casado com D. Isabel de Portugal (irmã de D. Pedro e tia do rei) é que os filhos do ex-regente puderam sair do país em segurança. Um viria a ser cardeal (D. Jaime), outro conde de Barcelona (D. Pedro) e outro ainda rei de Chipre (D. João). Segundo, D. Maria I Rainha louca para um país de doidos Maria I (1734-1816), a primeira mulher que governou Portugal, ficou conhecida como a rainha louca. Se D. Maria, que tinha 42 anos quando subiu ao trono, não era propriamente uma mulher bela, o rei consorte, esse então era considerado ainda mais feio do que Carlos III de Espanha - e este era conhecido como um dos homens mais feios da Europa do seu tempo. À falta de atractivos físicos aliava D. Pedro III a pouca inteligência. Na corte puseram- -lhe a alcunha do "capacidónio": era uma das suas palavras preferidas e com ela se referia às pessoas a quem tencionava atribuir um cargo, depois de ter apanhado de ouvido que alguém era "capaz e idóneo" para determinado emprego... As notícias da revolução francesa foram encontrar D. Maria I num estado de grande fragilidade. Acabou por perder completamente o juízo. No princípio de 1792, a rainha foi sangrada e levada a banhos mas, no dia 10 de Fevereiro, os mais prestigiados médicos do reino assinaram um boletim confirmando que "a saúde de Sua Majestade no estado em que se acha" não lhe permitia ocupar-se dos assuntos de Estado. Tinha 57 anos e estava oficialmente louca. Terceiro, Libertado Portugal da ocupação das tropas francesas, e após a derrota de Napoleão, Gomes Freire de Andrade regressa a Portugal, onde vem a ser Grão Mestre da Maçonaria. Veio a ser acusado de liderar uma conspiração contra a monarquia de Dom João VI, em Portugal continental representada pela Regência, então sob o governo militar britânico do marechal William Carr Beresford. Foi detido e enforcado por crime de traição à pátria no forte de S. Julião da Barra, junto com outras onze pessoas: o coronel Manuel Monteiro de Carvalho, os majores José Campelo de Miranda e José da Fonseca Neves e mais oito oficiais do Exército. Tiveram mãos e cabeças cortadas e os seus corpos foram amarrados à cauda de cavalos e posteriormente arrastados. Quarto, Por ser descartada das decisões muitas das vezes, Carlota Joaquina organizou à sua volta um partido com o objectivo de tirar as rédeas do poder ao príncipe regente, prendendo-o e declarando-o incapaz de cuidar dos assuntos do Estado, como sua mãe. Contudo, em 1805 esse partido foi descoberto; o conde de Vila Verde propôs a abertura de um inquérito e a prisão dos implicados, e a princesa só não pagou mais caro porque D. João, desejando evitar um escândalo público, opôs-se à sua prisão, preferindo confinar os movimentos da esposa ao Palácio de Queluz, enquanto ele mesmo ia morar para o Palácio de Mafra, separando-se dela. Seus inimigos afirmavam que somente cinco dos seus nove filhos (incluindo D. Miguel I) eram filhos de Dom João VI, já que Carlota Joaquina era uma notória ninfomaníaca. Quinto, Brites de Almeida, a Padeira de Aljubarrota, foi uma figura lendária e heroína portuguesa, cujo nome anda associado à vitória dos portugueses, contra as forças castelhanas, na batalha de Aljubarrota (1385). Com a sua pá de padeira, terá morto sete castelhanos que encontrou escondidos num forno. Sexto, Logo que D. Fernando faleceu, assumiu a regência do Reino D. Leonor Teles. Um dos seus primeiros actos foi proclamar rainha de Portugal sua filha D. Beatriz, casada com João l, rei de Castela. Assim, a independência de Portugal estava em perigo. Mas o povo português, sempre decidido para os grandes cometimentos, logo reagiu contra as decisões da rainha regente, que desde há muito vinha sendo mal vista e até odiada por todos. Alguns fidalgos, nomeadamente Álvaro Pais e o conde de Barcelos, prepararam, por isso, uma conjuntura, sentenciando à morte o fidalgo castelhano João Fernandes Andeiro, favorito da rainha, que era, na verdade, quem tudo mandava e governava. Da execução do plano, deveras arriscado, foi incumbido D. João, Mestre de Avis, fidalgo de muitas simpatias populares, filho bastardo de D. Pedro l e de D. Teresa Lourenço. Correndo, num momento, com os seus apoiantes aos Paços de São Martinho; o Mestre de Avis, em nome da Pátria, ali mesmo apunhalou o Conde Andeiro, em 1383. Sétimo, 1 de Fevereiro de 1908, há pouca gente na Praça do Comércio. Quando a carruagem real circula junto ao lado ocidental da praça ouve-se um tiro e desencadeia-se o tiroteio. Um homem de barbas, passada a carruagem, dirige-se para o meio da rua, leva à cara a carabina que tinha escondida sob a sua capa, põe o joelho no chão e faz pontaria. O tiro atravessou o pescoço do Rei, matando-o imediatamente. Começa a fuzilaria: outros atiradores, em diversos pontos da praça, atiram sobre a carruagem, que fica crivada de balas. O rei D. Carlos e o Príncipe D. Luís Filipe são assassinados em pleno Terreiro do Paço. Depois desta leitura ainda partilha da opinião de que somos um país de brandos costumes? Não me parece...e isto é só uma pequena amostra de um universo repleto de atrocidades e episódios pouco ortodoxos, de que pouco nos devem orgulhar. Cumprimentos.
publicado por polideias às 03:22
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